Fim Do Celular Analógico No Brasil
Anatel desativa nesta segunda-feira (30/06) faixas usadas por sistemas analógicos.
Como ficam os 11,8 mil usuários da rede AMPS?
Desde o dia 3 de abril de 1973, quando a primeira chamada de celular do mundo foi
realizada, muita coisa mudou. Dez anos depois e com quase 800 gramas, o dispositivo
chegou ao mercado.
Apelidados carinhosamente de "tijolões", os primeiros aparelhos usavam, de um modo
geral, o padrão analógico AMPS (Sistema de Telefonia Móvel Avançado).
Por determinação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), contudo, estes
tijolos não têm mais vez a partir desta segunda-feira (30/06). A cartada final tem
origem no Regulamento sobre Condições de Uso de Radiofreqüências nas Faixas de 800 MHz,
900 MHz, 1.800 MHz, 1.900 MHz e 2.100 MHz, aprovado pela ]Resolução 454.
O documento prevê o fim, em 30 de junho de 2008, das faixas de 824 MHz a 849 MHz e
de 869 MHz a 894 MHz, usadas para telefonia celular e fixa. A agência quer prorrogar,
por mais 1 ano, o uso dos sistemas para a telefonia fixa. Mas as redes
analógicas para celulares chegaram ao fim.
No Brasil, há 11.837 mil usuários que acessam a rede AMPS, segundo a Anatel. Se você
acha pouco, saiba que este número é pouco maior que a população do país Tuvalu, constituído
por 9 pequenas ilhas, localizado a Oeste da Oceania.
Lições de geografia à parte, como ficarão os usuários da telefonia celular
analógica no Brasil?
Primeiramente, é preciso que, se o usuário ainda não visitou sua operadora, entre em
contato para a migração. "E o consumidor não pode ser cobrado por uma mudança de
tecnologia, segundo as novas regras da Anatel", explica a técnica do Procon-SP, Fátima Lemos.
A especialista em direitos do consumidor alerta que "se a operadora precisa fazer alguma
modificação, o usuário não tem que arcar com o custo disso. A própria conta já inclui estes
valores operacionais", diz Fátima.
Ou seja, não é preciso se preocupar com a compra de um novo dispositivo móvel. "Eu adquiro
um aparelho, que funciona em determinada tecnologia e frequência. Se eu preciso trocar
o meu produto devido a uma mudança operacional, não posso ser onerado", continua a técnica.
Nessa transição, o número continua o mesmo. O que ocorre é só a troca da linha digital pela
analógica. Será necessário, claro, um celular compatível, que as operadoras têm a obrigação
de oferecer gratuitamente, segundo a Anatel.
Embora pareça inadmissível que algumas pessoas ainda usem o sistema analógico em plena
era 3G, o presidente da Teleco, Eduardo Tude, considera dois casos de usuários que ainda
não fizeram a migração.
"Uma possibilidade envolve quem morava em áreas rurais, onde a tecnologia digital
ainda não chegava e, apesar dos problemas do sistema analógico, não tinham outra opção",
afirma Tude. "Outro caso é o de pessoas que têm o celular integrado ao carro, por exemplo.
Um amigo meu gastaria cerca de 3 mil reais com a nova integração, e por isso deixou
como estava."
Fora a qualidade "a desejar" das ligações, o antigo sistema tinha outros problemas.
"Uma das desvantagens é que o analógico consumia muito mais bateria. Além disso, a
tecnologia é muito vulnerável, qualquer um podia ouvir suas conversas. As clonagens,
inclusive, eram muito comuns", conta Tude.
Caso o usuário do serviço analógico não tenha sido avisado pela operadora sobre a
migração com antecedência suficiente para que ela ocorra sem traumas, Fátima garante
que o consumidor tem direito a reclamar e até apelar à justiça.
"Se o usuário não foi informado, é possível pedir abatimento no valor do serviço,
proporcional ao tempo em que ele não funcionou. Se o equívoco da operadora for
evidenciado, ou seja, caso não ocorra aviso prévio ou troca de sistema sem ônus,
é possível iniciar um processo por perdas e danos", explica.
Colaboração com a rede
Com o novo celular, conectado ao sistema digital, os usuários indiretamente colaboram
com suas operadoras. Quando as redes analógicas forem desligadas, as empresas de
telecomunicações ganharão mais espaço no espectro de frequência utilizado pelos celulares.
Isto ocorre porque com a tecnologia digital é possível inserir vários usuários em
determinado canal. "O espectro da rede analógica é o mesmo usado atualmente pelas
operadoras. Só que, com uma tecnologia de modulação digital, você pode transmitir
muito mais informação em uma determinada banda", explica Tude.
Segundo o presidente da Teleco, hoje é possível passar cerca de 10 canais no espaço
que a tecnologia analógica limitava a apenas um. "Para a operadora, dar suporte à
migração para essa quantidade de usuários sai muito barato, já que, para ela, esta
banda vale muito mais."
E o roaming de CDMA?
Os usuários da operadora Vivo que ainda utilizam a tecnologia CDMA (Code Division
Multiple Access) podem encontrar problemas com a desativação das redes analógicas
para celular.
Em Minas Gerais e na região Nordeste do Brasil, a Vivo apela aos finados sistemas
para possibilitar os roamings de seus clientes CDMA.
Atualmente, os acessos em redes CDMA representam 13,3% dos celulares ativos no
Brasil - ou 17,4 milhões, segundo a Anatel.
Segundo a assessoria da operadora, quando o desligamento foi anunciado, a Vivo
pesquisou por usuários que se deslocavam com frequência para estas regiões e
sugeriu a migração para a tecnologia GSM (Global System for Mobile Communications).
"Esta questão acelera o fim do CDMA, mas demora. Não são todos que fazem roaming
nestes locais, mas vemos que a queda no número de usuários irá cair", opina Tude.
Por Lygia de Luca, repórter do IDG Now!
Publicada em 30 de junho de 2008 às 07h00
Fonte: MillerFilmes
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